Foto: Tânia Rêgo
O novo corte da Petrobras nos preços da gasolina, anunciado na quinta-feira (15), somado, principalmente, a um dólar consistentemente mais barato, estão alimentando uma nova leva de revisões para baixo nas projeções de economistas para a inflação de 2023.
Alguns bancos e corretoras já falam até em um resultado que pode ficar em 5% ou abaixo disso até dezembro.
As novas revisões se somam a uma grande leva de casas de análise que já vinham cortando suas expectativas para a inflação desde a semana passada, quando a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio mostrou uma inflação bem mais aliviada do que era esperado.
Menor risco e câmbio melhor
“O dólar foi condição essencial para a nossa revisão”, diz a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, que, nesta quinta-feira, cortou pela segunda vez a sua projeção para o IPCA de 2023.
A projeção da gestora de investimentos começou junho em 5,4%, foi reduzida para 5,1% na semana passada e, agora, para 4,8%, após o anúncio, na quarta (14), de que a S&P elevou a perspectiva da nota de crédito do Brasil.
“Já víamos uma redução maior no prêmio de risco do Brasil com a possível aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária”, disse Andrea.
“Mas o comentário da S&P ajuda esse prêmio a cair um pouco mais, porque ela colabora para uma visão melhor do Brasil lá fora e ajuda, inclusive, a trazer mais fluxo [de dólares] para cá.”
Na visão da Armor Capital, a taxa de câmbio tem fôlego para se manter na casa dos R$ 4,90 até o fim do ano e, em 2024, ficar na faixa dos R$ 5.
Nesta quinta, o dólar caiu pelo quinto dia seguido e fechou cotado a R$ 4,80, no menor valor desde junho do ano passado.
Nos 12 meses até maio, dado mais recente, o IPCA acumula alta de 3,94%, seu menor nível desde 2020.
Gasolina mais barata
A corretora Órama Investimentos explica que o novo corte no preço da gasolina pela Petrobras ajudará a tirar alguns pontos da inflação do ano, o que explica a redução que divulgou em sua projeção para o IPCA de 2023, agora de 5,2%.
“A medida começa a valer a partir de amanhã [sexta, 16] e estimamos que o efeito sobre a inflação será de cerca de 10 pontos-base [0,1 ponto porcentual] entre junho e julho, levando nossa projeção do IPCA para 5,2% neste ano”, escreveu a Órama em relatório.
A Petrobras informou na manhã desta quinta-feira que irá fazer um corte de R$ 0,13, ou de 4,7%, no litro da gasolina vendida em suas refinarias. É o segundo corte em um mês.
“Em junho devemos ter deflação, a dúvida é apenas de qual será o tamanho dela”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, que também está cortando sua projeção de IPCA para 2023 para 5%, de 5,15% na estimativa anterior.
Em suas contas, a inflação tem fôlego para cair cerca de 0,15% em junho, ajudado por quedas nos preços dos alimentos e também de bens industriais. E o dado negativo no mês faz com que a conta para o IPCA do ano completo acabe sendo puxada para baixo.
“O câmbio está ajudando muito, assim como atrapalhou como estava alto”, diz Gonçalves. “Ele deve continuar um pouco abaixo de R$ 5, o que explica um pedaço importante na redução dos preços dos alimentos e de bens industriais.”