Nádia Saturnino, 22 anos, será 1ª médica de comunidade quilombola

Ela foi incluída no programa de bolsa estadual no valor de R$ 900 mensais para estudar medicina na UFMT

Foto: Christiano Antonucci

Descendente de escravos, a estudante de medicina Nádia Silviely Benites Saturnino, de 22 anos, é uma das beneficiadas com a bolsa de estudo de R$ 900 por mês concedida pelo Governo de Mato Grosso aos acadêmicos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) de origem quilombola. Sem apoio financeiro, ela afirma que é impossível dar sequência aos estudos.

Como o curso é integral, a estudante não tem condições de trabalhar para pagar as despesas e o Auxílio Piqui, fornecido pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc), vai ajudar na permanência dela na faculdade para que possa se tornar a primeira médica da comunidade quilombola Ribeirão dos Cocais, em Nossa Senhora do Livramento.

“Esse auxílio é a realização de sonhos, porque hoje não tenho como trabalhar. Se Deus quiser, vou ser a primeira médica da comunidade”, declarou a jovem, que sempre estudou na Escola Estadual Vereador Amarílio Gomes da Silva, que fica na comunidade, e agora iniciou o segundo semestre da graduação.

O projeto contempla 56 estudantes da UFMT que concluíram o ensino médio em escolas da rede estadual no início do curso. A seleção dos beneficiados é feita com base na análise do histórico escolar.

Nádia chegou a fazer dois semestres de farmácia, mas tinha vontade mesmo era de fazer medicina. “Era um sonho ambicioso, porque do lugar de onde eu venho, de acordo com a minha realidade, apesar da minha mãe ter feito o melhor que ela pode, era um sonho ambicioso. Jamais teria condições de pagar um curso assim”, comentou.

Ela viu no Programa de Inclusão de Estudantes Quilombolas (PROINQ) uma possibilidade de ingressar na faculdade de medicina.

A estudante é tataraneta de Ana Martinha da Silva, que era filha de escravos e morreu aos 123 anos, em 2004, quando ainda era pequena. Por causa da idade, Ana Martinha chegou a entrar para o Guiness Book (Livro dos Recordes) como a mulher mais idosa do mundo.

Quando a acadêmica nasceu, a família morava no Quilombo do Itambé, em Chapada dos Guimarães, mas logo depois a mãe se mudou com ela para o quilombo em Nossa Senhora do Livramento. A mãe de Nádia é professora e foi a primeira da família a se formar na faculdade e sempre a incentivou a estudar.