Sid Carneiro
Os constantes aumentos dos combustíveis impactaram de forma negativa, as empresas de fretes em todo o país. Em Cuiabá, o óleo diesel subiu para R$ 8,14, reflexo dos impostos cobrados sobre os combustíveis, como o ICMS, que em Mato Grosso, apesar de ter lei estadual, que reduziu a taxa de 17% para 12%, ainda é um dos mais caros, entre os estados brasileiros. O presidente da Associação Brasileira dos Transportadores de Cargas e Pessoas do Brasil (ASTRO) Walter Joner Pereira defendeu a regularização da lei que aprovou a tabela mínima de frete no país para acompanhar os encargos tributários e os reajustes sobre os combustíveis, como foi debatida em 2018, mas foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. “Já existem empresas de frete e caminhoneiros autônomos operando no vermelho sem parâmetro diante de tantos aumentos dos combustíveis”, argumentou Walter.
Segundo ele, as empresas atuam com base na oferta e procura. “Hoje, mesmo com a lei da tabela mínima dos fretes que está suspensa no STF, os fretes continuam sendo pagos conforme a oferta e a procura. Ou seja, se tem muito caminhão, o valor do frete baixa, se tem pouco caminhão, o frete sobe”, afirmou.
Sem o parâmetro da regularização de uma tabela de preços dos fretes, as empresas estão operando no limite, mesmo com os preços por quilometragem atraentes. No entanto, os fretes perderam valores diante do reajuste do diesel considerado repentino e injustificável. “O valor do frete caiu muito. Só no mês passado tivemos três aumentos dos combustíveis e hoje os donos de caminhões estão numa espécie de leilão, pegando frete que compense o valor do combustível”, disse Eurípides Rosa dos Santos, administrador da Mustang Transportes Cereais.
As empresas não entendem a sequência de reajustes sobre os combustíveis feitos pela Petrobrás. No Congresso Nacional, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida tirou a responsabilidade do governo sobre os aumentos. “Não está no controle do governo. O preço dos combustíveis é decisão da empresa e não do governo. Leis impedem a intervenção do governo na administração das empresas, mesmo o governo sendo acionista majoritário, como a Petrobrás”, afirmou o ministro.
O gerente Josué Santos da Prime Logística filial Cuiabá reiterou que os cálculos do valor do frete não têm sido atraentes para os donos de caminhões autônomos e até mesmo para as empresas de cargas. “Quando os fretes são feitos para fora do estado, o valor sobe devido aos encargos em razão dos valores dos impostos entre os estados”, disse Josué.
Pelos cálculos, um frete de R$ 550,00 a tonelada de Cuiabá para Altamira (PA) dependo do caminhão, o motorista chega ao destino com 60% de despesa. “O custo benefício do caminhão alavancou mais que o valor do frete e não condiz com o atual cenário brasileiro. Mato Grosso cobra o maior ICMS do país de 12% sobre os combustíveis”, comparou.
Josué disse que Mato Grosso deveria reduzir o ICMS para 7% como acontece nos estados do sudeste e sul do país. “Para sair do Mato Grosso pagamos 12% e a diferença é muito grande”, analisou.
Enquanto preparava seu caminhão para mais um frete ao Rio de Janeiro, o caminhoneiro autônomo em Cuiabá, Francisco Ozael de Lima, disse que não aceita o argumento do governo federal de que a guerra entre Rússia e Ucrânia interferiu na política de preços dos combustíveis no Brasil. “Isso não existe, nosso país é outro. Ele quer fazer agente acreditar nessas desculpas. A coisa tá feia, porque os aumentos sobre os combustíveis passaram a ser quase que diários. Tá todo mundo perdido e ninguém faz nada”, desabafou Francisco.