No dia 5 de outubro de 1988, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, ao promulgar a Constituição exortou a nação: “Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública.” (pág. 14.381).
É com base nesta mensagem que não tenho as mínimas condições de anuir com o símbolo nacional da corrupção. Não há precedente no mundo civilizado de candidato filmado naquelas circunstâncias ser consagrado, legitimado e justificado pelo voto popular!
Aliás, caro leitor, o que se debate nas consciências livres e republicanas é que em Cuiabá, não estamos a lidar com a corrupção em sentido genérico. Corrupção houve até nas hostes celestiais (que o diga o anjo de luz). Porém, o paletó só há em Cuiabá!
Transparência, ética, probidade e respeito com a coisa pública são os primeiros e comezinhos valores republicanos que jamais devem ser negociados. É o colostro que o cidadão deve ser nutrido para que possamos consolidar o sonho democrático.
Os meios de contenção a violência contra a mulher, a homofobia, raça, religião, de defesa da criança, do idoso e das pessoas com deficiência, ou seja, de proteção das minorias, somente serão viabilizadas se os primeiros valores republicanos forem preservados. Fora disso, é retórica populista!
É por isso que a mensagem de Ulysses Guimarães não foi um exercício de retórica, mas, sim, de pura lógica republicana e democrática.
Ulysses já tinha a exata compressão de que as promessas constitucionais serão em vão e só serão cumpridas se os gestores tiverem compromisso ético com a coisa pública, a República!
Assim, a prática ética antecede a qualquer formulação política, de maneira que o episódio do paletó, o símbolo nacional do fiel retrato da corrupção, uma vez chancelado pela soberana vontade popular é uma ameaça letal a Cuiabá, importando em precedente que irá corroer como ácido as nossas frágeis estruturas democráticas.
O paletó é uma ameaça a democracia. É a pior forma de autoritarismo. É a ditadura da corrupção.
Portanto, digo não a Emanuel, e sim a Abílio.
Como dizia o sábio Ulysses: Excelências, eis a realidade.
* Diogo Botelho é advogado.