Para reforçar a tentativa de preservação das espécies e manutenção do ciclo da cadeia alimentar, o Comitê Estadual de Gestão do Fogo, gerenciado pelo Governo de Mato Grosso tem realizado uma força-tarefa diária no resgate dos animais que apresentam ferimentos causados pelas queimadas ou lesões sofridas durante o trajeto para escapar.
Localizado no quilômetro 17 da Transpantaneira, que liga o município de Poconé a Porto Jofre, o Posto de Atendimento a Animais Silvestres (PAEAS) foi montado para fazer os primeiros socorros e tratá-los para que possam retornar ao habitat natural com segurança. O PAEAS Pantanal integra as ações do Centro Integrado Multiagências (Ciman-MT).
“O Comitê tem como missão fortalecer as ações de prevenção, preparação e resposta, a fim de reduzir os danos econômicos, sociais e ambientais causados pelos incêndios florestais. Para isso, ele interage com algumas agências e exerce papel fundamental neste cenário de combate. Agora, devido a gravidade, focamos também no salvamento e resgate de animais silvestres”, explicou Paulo André da Silva Barroso, secretário executivo do Comitê Estadual de Gestão do Fogo (CGF) e coordenador do PAEAS.
A estrutura foi iniciada no dia 30 de agosto de 2020 e desde então já recebeu mais de 13 animais de pequeno e grande porte, como onças, lobetes, iguana, anta, jabuti, garça, jaguatirica; entre outros. Em casos de cirurgia ou atendimentos mais graves, os animais são encaminhados para clínicas parceiras ou instituições ecológicas de outros Estados do Brasil.
Esta semana estão em acompanhamento um tuiuiú que foi encontrado próximo a uma pousada com fratura em uma das asas, uma maritaca machucada e com dificuldades para voar, e um pequeno roedor com queimadura nas patas e que foi resgatado próximo a uma fazenda atingida pelas queimadas.
O posto funciona com apoio das secretarias estaduais de Meio Ambiente, Segurança Pública, Saúde, universidades federais (UFMT e IFMT), Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Ambiental, Marinha, Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MT), Ordem dos Advogados do Brasil, ONG Ampara Silvestre, Clínicas Veterinárias, Ibama, Prefeitura Municipal, trabalho voluntário e doações.
Créditos: Mayke Toscano – SECOM/MT
A estrutura para abrigar os animais conta com ambulatório, almoxarifado, armário com medicamentos, alojamentos, cozinha, banheiro e recintos específicos para os bichos. Os recintos para transporte animal e tratamento foram feitos com a mão de obra de reeducandos e uso de madeira apreendida.
A equipe de resgate é formada por veterinários, biólogos, e estagiários que se revezam na operação realizada em períodos alternados em áreas queimadas ou que o fogo pode chegar, seja durante o dia ou noite. Eles são responsáveis por resgatar e também distribuir alimentos em pontos estratégicos para que os bichos consigam localizar e se alimentar. O grupo conta com o suporte do Corpo de Bombeiros em todas as ações, devido ao perigo dos incêndios ou animais maiores que apresentam riscos.
Assim como os ferimentos, os sinais de desidratação e falta de alimentação também preocupam. A dimensão dos incêndios tem surpreendido e entristece até os mais experientes.
“Eu não imaginava a gravidade do que está acontecendo aqui e o tamanho da área afetada por esses incêndios. Aparentava ser um controle simples de só apagar as chamas, mas quando o fogo termina em uma parte, já percebemos ele começando em outra”, relatou o médico veterinário e voluntário, Fernando Rogério, que está há quase uma semana no Pantanal para auxiliar nos resgates.
O biólogo Kairo Rodrigues, passou três dias no PAEAS atuando como voluntário e destacou como foi a experiência.
“A minha sensação é de fazer parte de algo muito maior, porque a biodiversidade que existe aqui é única no mundo. Essa vivência tem um valor imensurável e não tem como explicar o que sentimos com palavras. Por mais que passamos por fumaça, seca, calor intenso – a gente dá o nosso melhor”, contou o biólogo.
A identificação dos pontos para distribuição de frutas e legumes é feita com base em localização de corixos (ambientes com poças de água). Estes são localizados com uso de aplicativo e monitoramento das equipes que avaliam também a questão do consumo dos alimentos, conforme explicou a médica veterinária Karen Ramos. Ela é responsável por liderar as equipes de trabalho em campo do PAEAS.
“Temos monitorados os corixos. Normalmente os animais que sofreram vão para essas regiões e fazemos uma ronda para possivelmente encontrar os animais queimados. Não há uma quantidade exata de alimento colocado, mas deixamos uma caixa de frutas e um cocho de 140 litros de água. Conforme acontece a redução do insumo, fazemos a reposição”, disse.
O trabalho segue sem previsão para terminar e a expectativa é de que as chuvas previstas para o mês de outubro possam contribuir para amenizar os impactos no meio ambiente e na vida animal. Ainda não há um levantamento sobre a porcentagem de animais encontrados mortos ou quantos estariam ameaçados pelos incêndios.
Refúgio
Créditos: Mayke Toscano – SECOM/MT
As equipes do Corpo de Bombeiros com o apoio de tratores estão fazendo demarcações em uma área de 50 quilômetros para criar uma espécie de aceiro (faixas ao longo das cercas onde a vegetação foi completamente eliminada da superfície do solo). A finalidade é prevenir a passagem do fogo para área de vegetação, evitando-se assim queimadas e criando também espaços para que os animais como onças e outras espécies menores possam escapar do fogo.
Como ajudar
A população pode apoiar o resgate dos animais doando utensílios e medicamentos veterinários conforme lista disponível no site do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MT) ou pela vaquinha virtual organizada pela ONG Ampara Silvestre.
Os medicamentos e utensílio veterinários podem ser entregues na sede do CRMV-MT localizada na Rua Choffi (Ten. Tavares), 178, Santa Rosa – Cuiabá-MT. (Atrás do supermercado Extra da Miguel Sutil) de segunda a sexta-feira das 8h às 17h. O cadastramento de voluntários também pode ser feito pelo site.
Combate aos incêndios
Cinco equipes atuam nas regiões incendiadas no Pantanal durante a Operação Pantanal II. As queimadas já duram mais de 70 dias e se propagaram na estrada Transpantaneira Setor Norte e Sul (Porto Jofre) e áreas próximas a reserva Sesc Porto Cercado.
Seis aeronaves são utilizadas para monitorar e reconhecer os novos focos de calor. A região do Parque Encontro das Águas já teve mais de 50% de sua área danificada. Este ponto é considerado um dos mais preocupantes pelo plano operacional. A localidade é conhecida pela alta concentração de onças pintadas e teve 51 mil hectares, do total de 108 mil hectares, queimados pelo fogo iniciado há cerca de oito dias.