AFP/Foto ANTONIO SCORZA
O cacique Aritana Yawalapiti, uma das lideranças indígenas mais influentes do Brasil, morreu nesta quarta-feira (5) em um hospital de Goiânia por complicações respiratórias causadas pelo novo coronavírus, informaram seus familiares.
“Sua morte está confirmada”, disse por telefone à AFP Iano Yawalapiti, sobrinho do líder do Alto Xingu (Mato Grosso), conhecido por defender os direitos indígenas e proteger a Amazônia.
Aritana, de 71 anos, que sofria de hipertensão, foi diagnosticado com a COVID-19 e internado na unidade de terapia intensiva do hospital São Francisco de Assis em 22 de julho, depois de sofrer sérios problemas respiratórios que afetaram um de seus pulmões.
“Era um grande defensor da luta pela preservação e perpetuação da cultura de seu povo para as novas gerações, e constantemente denunciou os efeitos do desmatamento no entorno de seu território, como a extinção de peixes dos rios e a contaminação das águas”, expressou sua família em um comunicado divulgado pela ONG Uma gota no Oceano.
Aritana teve que deixar sua aldeia de Yawalapati, no coração do território do Xingu, para ser tratado primeiro em um hospital em Canarana, estado de Mato Grosso, onde foi diagnosticado com o novo coronavírus há duas semanas e se constatou que um de seus pulmões estava seriamente comprometido.
Devido à seriedade de seu estado de saúde, o cacique foi transferido para Goiânia em uma viagem de nove horas de carro, em que precisou ser assistido com tanques de oxigênio.
“Não sei se seu corpo será trazido para cá”, para a aldeia, disse seu sobrinho Iano, sem dar detalhes.
“É um dia escuro, um dia de luto pela humanidade, outra figura imensa da luta indígena se extingue com o desaparecimento do cacique Aritana (…) considerado a mais alta autoridade do Alto Xingu”, lamentou a ONG francesa Planete Amazone em nota.
Aritana era conhecido mundialmente por sua luta para proteger o território Xingu, uma reserva de 26.000 km2, onde residem 16 povos indígenas, ameaçados pela extração ilegal de madeira, bem como por invasões.
– Grupo vulnerável –
As comunidades indígenas, historicamente dizimadas por doenças trazidas da Europa, têm baixa imunidade a vírus do exterior.
Mais de 630 indígenas morreram pelo coronavírus e pelo menos 22.000 contraíram a doença, de acordo com o balanço mais recente da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que acusa o governo Jair Bolsonaro de omissão diante da pandemia.
O presidente gerou uma polarização no Brasil ao minimizar a COVID-19 como uma “gripezinha”, apesar do fato de a pandemia já ter matado mais de 95.000 pessoas no país.
Um irmão e uma sobrinha do cacique também morreram de coronavírus, informou seu filho, Tapi.
Após a morte de seus parentes, Aritana iniciou uma campanha para arrecadar fundos e levar atendimento médico àquela terra indígena, sem recursos ou remédios para atender os pacientes mais graves, disse Tapi.
O coronavírus tirou a vida de outros líderes indígenas, como Paulinho Piakan em junho.
Em 25 de julho, o emblemático cacique Raoni Metuktire recebeu alta após permanecer hospitalizado por uma doença não relacionada à COVID-19, após a morte de sua esposa Bekwyjka, sua companheira por 60 anos, vítima de um acidente vascular cerebral.