Para quem acompanha o desenrolar dos processos de gestão e a política interna do IFMT provavelmente já se perguntou sobre os (des)caminhos dos processos de desenvolvimento acadêmico e institucional. Ou então ao menos já se perguntou sobre as razões dessa ou daquela política. Sobre os pressupostos de determinadas ações, decisões ou omissões. E assim por diante. Pois bem, eu já me perguntei! E é sobre isso que escrevo hoje, no intuito de refletir e provocar à reflexão todos aqueles e aquelas que se preocupam com a educação e os(as) que, como eu, escolheram a educação como campo de atuação profissional e o IFMT como lócus de desenvolvimento da práxis pedagógica.
É importante ressaltar, preliminarmente, que nos Institutos Federais (IFs) a comunidade interna tem autonomia para escolher democraticamente os seus líderes e também para pensar e deliberar sobre as políticas de desenvolvimento acadêmico e institucional. É o que está referendado na lei 12.892/2008, Art. 1º, parágrafo único, que estabelece autonomia administrativa, patrimonial, pedagógica e financeira aos IFs. Os princípios democráticos da gestão participativa e da autonomia institucional estão presentes também no PNE e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional e Tecnológica. Ora, se as diretrizes e normas superiores estão delegando competência às comunidades internas para decidir autonomamente sobre os rumos institucionais, significa que somos corresponsáveis pela situação em que nos encontramos e também pelas direções e perspectivas de futuro. Não somos os únicos responsáveis, visto que as forças externas interferem nos processos internos. Porém, não há dúvidas sobre a responsabilidade que recai sobre nós (comunidade interna) quando nos referimos às condições, limites e possibilidades de desenvolvimento acadêmico e institucional no IFMT.
Fatalmente, estamos atravessando um dos períodos mais difíceis da história dos Institutos Federais, inicialmente não por razões internas, mas por influências externas relacionadas sobretudo às crises econômica e política (e agora também sanitária) pelas quais passa o nosso país. Outrossim, há também problemas internos que dificultam e até limitam o processo de desenvolvimento, aumentam a vulnerabilidade e aprofundam a crise institucional. Nesse cenário, imagino dois caminhos possíveis e que podem ser trilhados concomitantemente: o da resistência aos ataques daqueles que duvidam da capacidade dos IFs, geralmente por não conhecê-los ou daqueles que não desejam vê-los prosperar no seu propósito de formar sujeitos autônomos e críticos; e, por outro lado, o caminho da ação política afirmativa e objetiva, da potencialização das forças internas, do aperfeiçoamento da gestão dos recursos e das pessoas, do planejamento estratégico, da valorização dos servidores, da consolidação das parcerias locais, nacionais e internacionais, entre outras tantas ações cuja força é capaz de nos libertar das amarras internas e até externas que obstaculizam o desenvolvimento pleno dos potenciais emancipatórios presentes na realidade institucional.
Nessa luta, a crítica e a ação são as armas mais poderosas que temos ao nosso alcance nesse momento. Temos que ter a coragem de usá-las, sobretudo quando elas miram o interior da nossa própria instituição. Olhar para dentro, acertar-se consigo mesmo, arrumar a própria casa, remover os obstáculos, liberar os potenciais, estimular o protagonismo e deixar fluir a energia que emana de cada pessoa, chamar à razão, unificar as forças e objetivar as ações… são etapas de um processo de superação, amadurecimento e prosperidade que deve ser encarado com seriedade e transparência por todos nós.
Não nos deixemos cair na tentação do corporativismo barato ou dos processos associativos de meras empirias compartilhadas, típicos do mundo medíocre de Funes, abarrotado de pormenores quase imediatos, como diria Jorge Luís Borges. Pensemos grande e ousemos juntos construir um futuro promissor para a nossa instituição e para a nossa comunidade. Um futuro de liberdade, transparência e lealdade entre todos. Não nos deixemos cair na tentação do “saber-fazer” pragmático, por vezes até criativo, que, todavia, restringe fortemente possibilidades mais amplas e críticas de conhecimento, de racionalidade e de liberdade.
De bem consigo mesmo e com a sua comunidade, conhecendo os seus potenciais e seus objetivos, estando organizado e livre das amarras internas, um corpo institucional vigoroso como o IFMT torna-se invencível ante as ameaças externas e infalível ante a sua missão de “educar para a vida e para o trabalho”. Esse é o nosso desejo para o IFMT, esse é o nosso sonho e essa é a nossa luta!
Claudir von Dentz
Professor de Filosofia do IFMT de Diretor Geral do Campus Sorriso