Bebê indígena que foi enterrada viva pela avós, será entregue ao pai biológico

O pai biológico da bebê indígena Analu Paluni Kamayura Trumai ganhou a guarda provisória da filha, que estava acolhida na Casa da Criança e do Adolescente Hygino Penasso, em Canarana (823 km de Cuiabá), sob tutela da Fundação Nacional do Índio (Funai). A decisão do juiz Darwin de Souza Pontes, da 1ª Vara da Comarca de Canarana, foi proferida no dia 14 junho.

A indiazinha foi parar no abrigo após ter sido enterrada viva pela avó e bisavó, na região do Xingu, e sobrevivido a cerca de 7 horas em uma cova. A pequena guerreira se recuperou bem da infecção generalizada, insuficiência respiratória e dos procedimentos cirúrgicos a que foi submetida devido ao trauma que sofreu.

Prestes a completar 1 ano e 1 mês de vida, Analu atualmente mora com a família paterna em uma aldeia da etnia Kamayurá, na região de Peixoto de Azevedo (691 km da capital). Durante esse período a pequena receberá acompanhamento periódico pela Justiça, que deverá analisar a guarda definitiva em seis meses.

Logo que Analu recebeu alta médica e foi encaminhada para o abrigo, ainda com destino incerto, várias pessoas que acompanharam o caso manifestaram interesse em adotar a indiazinha. O processo da guarda durou 11 meses e incluiu estudo psicossocial da família materna e paterna, além do estudo antropológico da etnia à qual pertence.

Em março deste ano, o Ministério Público Estadual (MPE) enviou parecer à Justiça Estadual pedindo que Analu fosse retirada do abrigo e integrada à família do pai. Desde que foram cogitadas as possibilidades de adoção, o promotor de Justiça Matheus Pavão de Oliveira sempre frisou a prioridade resguardada por lei de a bebê “permanecer no convívio familiar para manter o vínculo e a tradição cultural”.

De acordo com o magistrado, a decisão foi tomada com cautela, com base em estudos psicossociais que indicaram um cenário favorável ao pai, Kayani Trumai Aweti.

“Depois de muitos estudos e avaliações de diversas situações, constatamos que a melhor opção era o pai biológico. Ele demonstrou interesse real e sério pela criança, sempre visitava a Analu na Casa da Criança de Canarana, apresentou um bom comportamento desde o início, então entendemos por bem entregar para ele”, pontuou o juiz.
RELEMBRE O CASO

Analu Paluni Kamayura Trumai nasceu em 5 de junho de 2018, filha de uma índia adolescente de 15 anos, e foi enterrada viva ao lado da casa onde mora a família por volta das 14h. Uma denúncia levou os policiais até o local por volta das 21h, quando a menininha foi

resgatada da vala.

A bisavó da recém-nascida, Kutsamin Kamayurá, 57 anos, e a avó Topoalu Kamayura,33, foram apontadas como as responsáveis por premeditar o infanticídio. De acordo com a investigação, a avó e bisavó não queriam a bebê por ser filha de mãe solteira e, inclusive, já haviam tentado que a adolescente abortasse a criança.

Topoalu e Kutsamin respondem em liberdade por tentativa de homicídio. Ambas chegaram a ser presas, mas conseguiram reverter a medida. Hoje já nem usam mais tornozeleira eletrônica, como foi determinado à época da soltura.