Hoje Cuiabá completa 306 anos, e eu não poderia deixar passar em branco essa data que carrega mais do que tempo: carrega história, cheiro, sons e lembranças que moram na alma de quem nasceu e foi criado aqui. E eu digo com a boca cheia: sou cuiabano de chapa e cruz, nascido na Cidade Alta, e tenho orgulho catiça dessa terra quente, acolhedora e cheia de vida.
Vi Cuiabá se transformá com o tempo. Vi a poeira vermelha das ruas dando lugar ao asfalto, vi o mato virá bairro, vi a beira do rio encher de prédio, e mesmo assim, nóis cuiabano de raiz nunca deixou de sentí o coração bater mais forte ao ouvi um rasqueado ou ao sentí o cheiro de farofa de banana saindo da cozinha.
Cuiabá de antigamente: tempo bom que dava gosto de vivê
Quem viveu a Cuiabá de antigamente sabe do que tô falano. Era tempo dos bailes que amanhecia o dia, com sanfona cantano e a turma dançano agarradim, suado e feliz. Tempo de festa no bairro, de rede na varanda, de prosa demorada na porta de casa.
As praças eram ponto de encontro — da juventude, dos namoros, dos amigos de fé. Tinha os banho nos rio, onde a gente se jogava sem medo e saía com o cabelo cheio de areia e a alma lavada. O rio Coxipó, o Paraguaia, eram mais que paisagem: era lazer, era vida, era encontro.
E tinha também o som do rádio tocano lambadão, a vó fazendo bolo de arroz, os menino jogano bola com chinelo de trave e as vizinha gritando da janela:
“Óia os menino aí berrano de novo, vôte!”
Cuiabá de hoje: quente, moderna, mas com o coração de sempre
Hoje Cuiabá é outra. Cresceu, se modernizou, virou cidade grande, cheia de desafio, mas cheia de orgulho também. E eu me sinto privilegiado por ter visto essa transformação. Ver o Centro ganhar cara nova, os bairros se expandirem, as avenidas se abrirem — isso tudo mostra que essa terra tem força, tem garra, tem futuro.
Mas o mais bonito é que, mesmo com tudo mudano, o cuiabano continua sendo cuiabano: com o sotaque arrastado, com o jeito acolhedor, com a fé que não se abala, e com a mesma alegria de sentá pra tomá um guaraná ralado e falá da vida.
Parabéns, minha morena do cerrado
Cuiabá, minha terra querida, tu és digoreste demais! És quente, és forte, és cheia de histórias e cheia de amor. Eu tenho orgulho de cada canto teu — da Cidade Alta ao Pedra 90, do Coxipó ao CPA. Tenho orgulho de tê nascido em ti, de ter vivido tuas mudanças, e de sabê que onde quer que eu vá, Cuiabá vai comigo no jeito de falá, no calor do abraço e na saudade do que tu foste — e do que ainda és.
Parabéns, Cuiabá! Que venham muitos e muitos anos mais, com desenvolvimento, com cuidado, com respeito e com aquele jeito cuiabano que só quem é de chapa e cruz entende.
Neto Marques é jornalista e Cuiabano de Chapa e Cruz