Juros altos devem continuar freando economia em 2023, dizem economistas

O agronegócio continuará sendo a alternativa de melhorias no fechamento das contas por um equilíbrio fiscal

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CNN Brasil

A economia brasileira avançou 2,9% ao longo de 2022, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE, mas segundo especialistas consultados pela CNN, o recuo visto no PIB nacional no quarto trimestre, em 0,2%, indica que há uma desaceleração econômica em curso, como consequência direta do elevado patamar da taxa Selic em 13,75% desde meados de agosto.

“Ainda que o resultado do ano tenha sido muito bom, também por estímulos governamentais por causa das eleições, a taxa de juros foi crucial para a desaceleração vista no quarto trimestre do ano passado. Essa queda de 0,2% já indica o que vai acontecer em 2023”, afirma Juliana Trece, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

“O ano será muito desafiador por si só. Temos um ambiente externo mais delicado, com uma possível recessão global no radar que trará complicações ao país. Também não teremos mais o impulso de serviços e indústria, com o fim do boom pós-pandemia, e a taxa de juros elevada afetará mais a atividade.”

Na leitura da equipe de consultores da MB Associados, o problema pode ser agravado pela tensão criada entre o governo federal e o Banco Central (BC).

“Com os ruídos criados pelo próprio governo, o BC deu sinais de que terá que atrasar a queda de juros pela alta das expectativas da inflação para os próximos anos e a falta de uma consolidação fiscal concreta”, afirma a consultoria, em nota.

O elevado patamar da Selic influencia, também, no endividamento das famílias brasileiras. Segundo um levantamento da Serasa Experian, o número de inadimplentes passou de 59,3 milhões, em janeiro de 2018, para 70,1 milhões, em janeiro de 2023 — recorde da série histórica.

Impulso do agronegócio

Mesmo com o desalento em relação aos setores de serviços, indústria e varejo, os especialistas dizem que a economia brasileira em 2023 pode encontrar um “suporte robusto” do agronegócio — ainda que, no ano passado, tenha recuado 1,7%.

“Estamos vendo safra recorde sendo produzida neste momento, com exportação. E também temos expectativa positiva para o setor extrativo. Esses dois setores tiveram dificuldades no ano passado, tanto por questões climáticas e por demanda mais fraca da China”, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.

“Para este ano, o setor externo, puxado principalmente pela demanda da China, vai contribuir para que o PIB brasileiro ainda tenha algum crescimento positivo.”

Juliana Trece, do FGV Ibre, lembra que o agro brasileiro é fortemente puxado pelas safras de soja. “O que acontece com ela praticamente dita o ritmo do agronegócio nacional, e esperamos uma alta na soja em 2023, bem como no milho e na pecuária”, diz.

“O risco, agora, é que o setor é muito dependente da questão climática. Se tiver uma mudança no ciclo de chuvas, por exemplo, pode ser que essa expectativa seja afetada.”

Rodolfo Margato, da XP, ainda destaca que os programas de transferência de renda do governo, em especial o Bolsa Família, pode trazer “um aumento da renda disponível real das famílias”.

“Isso, combinado com a reabertura econômica da China e o impulso às exportações de commodities, deve proporcionar um ‘efeito almofada’ no PIB.”

Nesse sentido, as projeções para o PIB de 2023 giram em torno de 1%, para analistas da XP e do C6 Bank. O Boletim Focus e o Inter, por outro lado, estimam um crescimento em 0,8%.

Por conta disso, dos juros altos, os especialistas destacam que o consumo das famílias, em especial de bens mais onerosos, como eletrodomésticos e automóveis, será comprometido ao longo do ano, desaquecendo o setor varejista e industrial.

“O consumidor deverá passar um ano focado no básico, que costuma ser alimentação e farmacêutica. Sendo isto verdade, a dificuldade das varejistas nesse início de ano, agravada pela situação das Americanas, que fez com que os bancos se retraíssem, vai colocar um desafio a mais para o consumo no ano”, diz a MB Associados.

Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, também acrescenta que a “perda de ímpeto se espalhou por setores”.

“O arrefecimento da economia atingiu o mercado de trabalho no final do ano passado, com a geração líquida de empregos recuando consideravelmente.”

Além disso, Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, também chama atenção para “os baixos níveis de ociosidade econômica, a queda na geração de empregos, a confiança fraca dos consumidores e das empresas e a incipiente recuperação do ciclo de crédito”.

Tudo isso, segundo ele, deve gerar “ventos contrários à atividade econômica do Brasil, principalmente no primeiro semestre do ano”.

 

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