Rosa Neide
Dia 19 de Setembro é a data de aniversário de Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira. Reconhecido no mundo inteiro como educador que conseguiu pensar a educação para além do espaço escolar, em sua indissociável conexão com o mundo, seu pensamento e contribuição foram incorporados por diversas instituições no Brasil e no mundo.
Ele conseguiu demonstrar através do exemplo, dos seus livros, palestras e proposições, como o ato de ensinar também é uma forma de desvelar o mundo e suas injustiças. Seus livros “Pedagogia do Oprimido” e “Pedagogia da Autonomia” fazem parte da lista bibliográfica fundamental de diversos cursos universitários, sendo a Pedagogia do Oprimido o único livro brasileiro a aparecer em lista recente dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa.
Exemplo de luta e compromisso com a educação, a juventude de Paulo Freire também fora marcada por lutas, sendo que logo aos 10 anos perdeu seu pai. Sua mãe fez o máximo esforço para lhe proporcionar uma boa educação formal e, diante das perdas e dos esforços familiares, conseguiu concluir seus estudos e ingressar na Faculdade de Direito. Foi durante a graduação que o educador teve suas primeiras experiências em sala de aula, obtendo contato com realidades distintas e alunos de diferentes níveis de formação.
O fato de ter nascido e vivido em Recife propiciou ao nosso Patrono uma percepção ampla, sensível e múltipla da realidade. Diante de seus olhos havia a cidade de casarios coloniais, forjados pelas riquezas dos engenhos de açúcar do litoral e do sertão. O rio Capibaribe entrecortando o tecido urbano, demonstra a importância das pontes para a capital pernambucana. Para quem se aventura na obra de Paulo Freire, fica a nítida percepção de que o saber deve ser compartilhado e, tal qual uma ponte, nos leva para lugares que, sozinhos, não seríamos capazes de alcançar.
Seu método foi utilizado em 1962 com grande êxito em Angicos, interior do Rio Grande do Norte. O Golpe Militar de 1964 interrompeu as tentativas de aplicação de outras experiências no Brasil, durante o Governo João Goulart. Paulo Freire esteve preso e logo se viu no exílio. Assim como o curso de um rio, o autor e a obra contornaram os obstáculos e começaram a ser experimentados em outros países nos anos seguintes.
Depois de passar vários anos no exterior, o autor retornou do exílio, em 1980. Além de ministrar aulas na Unicamp, se aproxima de Dom Paulo Evaristo Arns, que o acolheu na Pontifícia Universidade Católica, em São Paulo. Nos anos oitenta Paulo Freire consolida sua trajetória acadêmica e, em 1989, o intelectual assume o cargo de Secretário Municipal de Educação de São Paulo, gestão de Luiza Erundina.
A Lei nº 12.612, de 13 de abril de 2012, que reconheceu Paulo Freire como Patrono da Educação Brasileira. A Lei origina-se em Projeto de Lei de autoria justamente da Deputada Federal e ex-prefeita de São Paulo, mulher e nordestina, Luiza Erundina, que foi sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff. À época de sua tramitação, a mesma foi relatada, na Comissão de Educação e de Cultura (CEC), pelo Deputado Federal Carlos Abicalil, meu companheiro de Estado e partido, como todos nós, um militante da causa da educação.
Para aqueles que tentam adjetivar negativamente sua obra registra-se que Paulo Freire foi um sujeito aberto ao novo. Incorporou visões filosóficas de pensadores distintos, posicionou-se politicamente em vários momentos e não descartou sua fé no cristianismo. Somado a isso, respeitou as culturas dos países onde lecionou, como Estados Unidos e Chile. Sobretudo, manteve inabalável sua esperança em um Brasil justo e solidário mesmo diante dos reveses de nossa história. Conferiu à educação papel central na transformação de homens e mulheres e, portanto, da própria sociedade.
Foi-se o homem, ficou o legado, vivo e atualíssimo e, por isso, não permitiremos que desmereçam sua memória com falácias e ataques cuja intenção é silenciar a obra do maior educador que este país já teve, impondo-se um segundo exílio a Paulo Freire. Afinal, como ele mesmo nos ensinou: “Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica”.
19 de setembro! Viva, Paulo Freire!
* Rosa Neide é deputada federal (PT-MT)
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