A cidade que fere; a cidade que mata!

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Sou médico ortopedista e presto serviço a todas às classes sociais, uma vez que atento os meus pacientes tanto no meio privado quanto pelo Sistema Público de Saúde (SUS). Por isso posso afirmar que nossas cidades ferem, mutilam e matam!

O número de pacientes que tenho recebido cuja origem do problema vem do trânsito é algo próximo aos campos de atendimentos das velhas guerras travadas até o século XIX, onde as batalhas se davam por confronto direto entre os oponentes. É possível afirmar que nosso trânsito é um campo de guerra.

As ruas, calçadas e, principalmente, os acidentes envolvendo veículos, motocicletas e bicicletas vão desde pequenas torções a lesões traumáticas que inviabilizam futuros movimentos. Mas tem também aqueles que nem fico sabendo, que tiveram apenas escoriações ou foram a óbito.

A cidade foi feita para viver e acolher as pessoas e não para machucá-las. Então por que está assim? Está assim, primeiro: pelo fato da cidade ser construída pensando em alguns e nunca em todos. Por isso temas como acessibilidade foram e continuam sendo, na maioria das vezes, ignorados.

Segundo: a regulação do trânsito de automóveis (mobilidade urbana) deve ser tratada com seriedade por parte do Poder Público. Não apenas nas regulações e punições, mas principalmente no exercício de oferecer condições para trafegabilidade, promovendo condições e segurança. No trânsito somos todos iguais. Ricos, pobres, motoristas, pedestres, deficientes ou não, temos os mesmos direitos.

E o que pode ser feito? O município não tem o poder de fazer tudo, mas pode fazer muito.  Calçadas dignas, com acessibilidade, passarela ou túneis para pedestres, vias exclusivas para ciclistas, ou mesmo patinetes ou skate. Sinalizações horizontais e verticais em locais apropriados…

Para o trânsito de automóveis é necessário sinalizar bem e padronizar a velocidade de tráfego, respeitando as condições de ruas de bairro, de áreas comerciais e de vias expressas. O que não pode é em uma mesma rua encontrar dois ou mais tipos de velocidade indicada por placas que mais confundem que orientam.

A fiscalização antes de ser punitiva tem que ser educativa. Há aparato suficiente para fazer uma fiscalização preventiva, mas, acima de tudo, educativa, organizando o trânsito principalmente nos locais mais críticos, colaborando com as pessoas e ensinando, não somente trafegar, mas a conviver com a cidade. Isso se faz com campanhas educativas e agentes nas ruas.

Muito tem que ser feito. A preferência pela vida tem que vir em primeiro lugar. Afinal, no trânsito somos todos iguais. Precisamos estabelecer prioridades, defender e salvar vidas. Evitar que pessoas se machuquem é uma prioridade inquestionável. O Poder Público tem que garantir a liberdade com responsabilidade para pedestre ou motorista. Desta forma vai estar cuidando da vida e prevenindo acidentes. Viver na cidade tem que ser mais seguro e mais prazeroso!

Dr. Luiz Fernando Amorim é médico ortopedista e traumatologista em Cuiabá

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