Além das surpresas e renovações que as eleições deste ano trouxeram em Mato Grosso, um fato tem chamado atenção de analistas e políticos: a perda de representatividade do agronegócio. Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi (PP), que é ex-governador de Mato Grosso e senador licenciado, acredita que o cenário foi gerado por falta de consenso entre representantes do setor.
Na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, poucos nomes ligados ao agronegócio foram eleitos. Neri Geller (PP) é o único deputado federal que representa o setor. Já na Assembleia, apenas o deputado Dilmar Dal’Bosco (DEM) conseguiu a reeleição e Silvio Favero (PSL) foi eleito pela região norte do Estado.
Já na disputa ao Senado, os 3 candidatos do agronegócio: Carlos Fávaro (PSD), Adilton Sachetti (PRB) e Nilson Leitão (PSDB), foram derrotados. Apenas Jayme Campos (DEM), ligado ao setor da Pecuária, conseguiu se eleger em 2º lugar. O vice-governador eleito, Otaviano Pivetta (PDT), também representa o agro, porém, sem muitas possibilidades de comando imediato.
Ao GD, Blairo Maggi (PP) afirmou a diminuição na representatividade ocorreu nacionalmente, e, principalmente em Mato Grosso, só se tornou real por falta de consenso do setor em focar em poucas candidaturas.
“Em Mato Grosso surgiram novas lideranças do agronegócio. Isso é bom, mas por outro lado não se chegou a um consenso para lançar poucas candidaturas. E com uma quantidade grande de candidatos, os votos do setor foram pulverizados e que culminou na derrota de importantes lideranças”, disse Maggi.
“Não precisava de tanta candidatura ao Senado do setor. O Nilson Leitão e o Adilton Sachetti poderiam ficar no na Câmara que ganhariam tranquilamente. Mas todos decidiram disputar ao mesmo tempo”, completou.
Para o jornalista e analista político, Onofre Ribeiro, a redução de representatividade no Poder Legislativo ocorreu após Maggi ter anunciado sua aposentadoria sem definir quem apoiaria para o pleito do último domingo (7). “Se ele tivesse dito que o setor iria apoiar A ou B, deixaria o espaço ocupado. Mas ele deixou um vácuo”, disse o professor.
Segundo Onofre, a postura de Maggi foi uma “senha” para que o agronegócio recuasse da sua influência política, resultando na perda de representatividade.
“Essas derrotas que alguns parlamentares do agronegócio tiveram foi o fato do espaço deixado. Todo mundo ficou solto e ficou cada um por si. E cada um por si não tem força”, analisou. “Essas candidaturas foram individuais e não pelo agro”, completou Onofre Ribeiro ao comentar as derrotas dos deputados federais Nilson Leitão, Adilton Sachetti e do ex-vice governador Carlos Fávaro, na disputa ao Senado.
Para o jornalista, também faltaram projetos ao setor do agronegócio. “Quando o Blairo saiu, as lideranças tinha que sentar e discutir o projeto deles. Faltou uma liderança que assumisse isso”.
Onofre Ribeiro destacou ainda o fato de as grandes empresas terem estabelecido um conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para o negócio e para as atividades, que são chamadas de “compliance”.
“Essas empresas até falaram que uma ou outra candidatura era do setor. Mas em eleição o apoio explicito é de votos ou de apoio financeiro. As empresas do agro não têm voto, só tem dinheiro. Então elas não transferiram votos e não colocaram dinheiro”, avaliou.
“Só lembrar na eleição de 2014, quando se elegeu o Pedro Taques. O Eraí Maggi (PP) foi um partido político sozinho. Ele tomou posições, ele financiou, indicou. Já nestas eleições não ouviu o nome dele uma única vez na imprensa. Quer dizer, recuo total, o pessoal da Amaggi, recuo total. O Blairo evitou de vir pra Mato Grosso a eleição inteira”.
Por fim, o analista político acredita que o debate eleitoral também não contribuiu com os candidatos do setor. “O debate girou em torno de que o agronegócio concentra muito dinheiro e que não paga impostos. O que é uma besteira. Mas isso marcou o debate”, lembrou.
Fonte: GD (Pablo Rodrigo)